Entrevista de Sérgio Almeida, treinador do CDINSL, ao Diário Insular

quarta-feira, 31 de março de 2010

Sérgio Almeida é um nome bastante conhecido no voleibol terceirense. Natural da ilha de São Miguel, começou a jogar voleibol nos Antigos Alunos e, há 10 anos, trocou a terra mãe pela Terceira para prosseguir os estudos. Já na ilha de Vitorino Nemésio vestiu as cores da Fonte do Bastardo e, mais recentemente, da ADREP.
Mas não é como jogador que Sérgio Almeida se tem destacado. Assumiu há oito anos atrás as funções de treinador do voleibol feminino da Irmandade de Nossa Senhora do Livramento, e apaixonou-se por uma causa que serve com dignidade e com vários sacrifícios na sua vida pessoal.
Diz que as suas jogadoras são a sua segunda família e, com grande entrega, continua a prestar os seus conhecimentos nesta instituição que acolhe jovens a quem a sorte virou as costas, mas que veem no voleibol um escape aos inúmeros problemas sociais que enfrentam, apesar da tenra idade.
Esta é uma entrevista que aborda não só os aspetos desportivos, mas também o lado social de um homem de 27 anos, cujo altruísmo e integridade deviam ser seguidos por muitos agentes desportivos que apenas se movem pelo peso dos euros.
Em entrevista ao “Diário Insular” não falou apenas dos problemas que o seu clube enfrenta, mas também das dificuldades do voleibol terceirense em geral.

PERCURSO
Fale-nos um pouco do seu percurso no voleibol.
Fiz a minha formação de voleibol em São Miguel, onde joguei nos Antigos Alunos. Depois vim continuar os estudos na área de Zootecnia aqui na Terceira, e fui jogar para a Fonte do Bastardo. Estive a jogar lá desde a subida da segunda divisão até ao ano em que a equipa subiu à liga A2. Entretanto, a Fonte do Bastardo começou a profissionalizar-se mais com a vinda de jogadores brasileiros como o Fabiano (que ainda lá joga), Rogério Brizola e Reinaldo. Com a chegada do professor Luís Resende, o profissionalismo foi levado muito mais a sério, e com dois treinos diários era impossível para mim poder continuar a acompanhar a nova dinâmica de treinos imposta no clube, pois a minha prioridade era acabar o último ano da universidade.
Pelo meio, surgiu a hipótese de ser treinador na Irmandade de Nossa Senhora do Livramento e resolvi experimentar. A minha mulher (Carla Almeida, diretora da Associação de Voleibol da Ilha Terceira) já era treinadora na Irmandade, e eu comecei, então, a orientar as minis, depois, claro, de ter tirado o curso de treinador. Entretanto, a direção que lá estava nessa altura acabou o mandato (no ano de 2004) e, como o voleibol ficou um pouco à deriva, eu e a minha mulher decidimos seguir em frente com o projeto para não deixar morrer a modalidade na Instituição. Se comecei apenas como treinador em 2001, três anos mais tarde assumi também o papel de dirigente. Mais recentemente ainda cheguei a jogar nos seniores da ADREP, mas a escassez de tempo e, sobretudo, uma lesão que sofri afastaram-me daquele clube praiense.

Mas, segundo consta, na Irmandade de Nossa Senhora do Livramento as suas funções não se limitam apenas ao papel de treinador...
É verdade. Sou treinador, presidente, tesoureiro, motorista, roupeiro, psicólogo, amigo, irmão mais velho... enfim, como se costuma dizer, sou pau para toda a obra! Faço isso com prazer, pois afeiçoei-me de tal forma a estas miúdas que considero serem a minha segunda família. A título de exemplo, ainda há pouco tempo, num fim de semana, depois de um jogo que fizemos, almoçámos e elas estiveram todas em minha casa a ver um filme, comigo, com a minha mulher e com o meu filho. Depois ainda fomos dar um passeio. Como deve calcular, o meu papel vai muito para além de simples treinador.

Não deve ser fácil lidar com jovens com os problemas sociais das suas atletas...
Não é nada fácil, mas, como referi, estou com elas há mais de oito anos, e conheço muito bem cada uma delas. Conheço os defeitos, as virtudes e sei bem lidar com cada uma, pois cada uma tem o seu feitio. Tenho aqui miúdas com problemas físicos e sociais graves e outros que não importa mencionar agora, mas jamais alguém dirá que as tratei de forma diferente por causa dos problemas que enfrentam. Trato-as todas da mesma maneira. Para onde uma vai, as outras também vão. Muitas equipas dizem que são uma família, mas a verdade é que quando há viagens para jogarem fora da ilha só vão os melhores atletas. Aqui não há distinções desse aspeto, pois para onde uma vai todas as outras vão! Apesar dos problemas que cada uma tem, elas formam um grupo extraordinário, e isso vê-se dentro do campo. Repare que no ano passado foram campeãs regionais de iniciados sem perderem um único set... Apesar de termos uma vertente mais social do que desportiva, por aí se vê o valor das minhas atletas... Nas minhas três equipas todos os anos há pelo menos uma que é campeã de ilha. Enquanto nas outras equipas no final dos jogos cada uma vai para o seu lado, aqui elas permanecem juntas, ou seja, temos uma coesão que não se vê em lado nenhum...

Mas nunca pensou em convidar alguém para lhe ajudar a treinar as atletas? Afinal se já se desdobra por outras funções que não as de treinador, uma mãozinha seria sempre bem-vinda...
Pois é muito fácil dizer isso, mas na prática é bem mais complicado. Para além da falta de treinadores a nível local, ninguém quer vir para aqui ao final do dia e trocar o sossego do lar por treinos de voleibol com jovens carenciadas de conforto familiar. Recentemente chegámos a ter uma outra pessoa amiga como treinadora, que no entanto não se mostrou disponível para continuar. Atualmente, conto com um novo corpo diretivo mais presente que me tem apoiado muito, facilitando todo o trabalho de apoio à modalidade “fora dos treinos”.

O Sérgio faz um pouco de tudo aqui, é preciso gostar mesmo...
Não é o dinheiro que me move, pois não vivo disto, mas sim o gosto pela modalidade e por servir esta nobre instituição. Sinto-me bem ao lado das minhas atletas e julgo que o sentimento é recíproco. Enquanto for assim…

As suas atletas também já devem ter criado estreitos laços com o Sérgio devido aos largos anos que leva na Irmandade... Já o devem ver como um pai...
Eu não diria "pai" pois tenho apenas 27 anos, tenho aqui atletas de 17 e 18 anos as quais treino desde os 9 ou 10 anos de idade. Elas olham para mim como um irmão mais velho com quem podem conversar e desabafar, e sabem que terão sempre a minha ajuda naquilo que eu puder fazer. Quando vamos jogar ou treinar, elas têm as conversas próprias de adolescentes, e mesmo comigo presente não se inibem em falar entre si de problemas normais que enfrentam com aquela idade, pois veem-me sobretudo como um amigo ou um irmão. Mas sabem bem que quando chegamos ao treino, o amigo ou irmão Sérgio passa a ser o treinador Sérgio. Por vezes enervo-me com elas nos treinos, mas sabem que me preocupo com o seu bem-estar e que apenas quero o melhor para todas. Recentemente fui para um novo emprego que me obriga a viajar com frequência. Se não gostasse tanto das minhas atletas já teria desistido, pois é desgastante vir para aqui ao final de um fatigante dia de trabalho.

REGRAS
O seu grupo de atletas é composto apenas por residentes na Irmandade ou há alguma rapariga que não faça parte da instituição?
Cem por cento das miúdas que aqui estão pertencem a esta instituição. Uma pequena minoria delas foi já entregue aos pais, mas continua a treinar e a jogar connosco por amor ao voleibol. Não é fácil a introdução de atletas de fora da Instituição. Repare que temos uma carrinha para nosso uso, e nem sempre está ao nosso dispor pois a instituição não vive só do voleibol, muito longe disso. Como tal, a carrinha também tem de estar disponível para outros afazeres. Obviamente que os pais preferem ter os filhos em outros clubes que em termos de logística são incomparavelmente melhor do que nós, pois têm várias carrinhas, vários treinadores, médicos; enfim... Há pouco tempo, conseguimos enriquecer a logística do nosso clube com a integração de “caras novas” (entre os quais um psicólogo) que, voluntariamente, têm dado uma preciosa ajuda naquilo que podem.

A Irmandade, enquanto instituição, só aceita jovens do sexo feminino?
Na sede principal da Irmandade, em São Bento, temos maioritariamente miúdas, mas existem algumas casas, espalhadas pela cidade e arredores, que têm funcionários e que albergam rapazes. Tanto o antigo presidente da Instituição como o atual queriam que os rapazes praticassem voleibol, mas se eu não tenho total disponibilidade para conseguir orientar os três escalões de raparigas, então com mais um grupo de rapazes não daria mesmo conta do recado... Não temos logística suficiente para alastrarmos o voleibol até aos rapazes. Mas repare que se tivéssemos muito mais jovens na equipa não teríamos o mesmo ambiente que temos com este pequeno grupo.
Presentemente temos 40 atletas, e para as condições que temos julgo que esse número é suficiente. Este ano fizemos um estágio na pousada aqui na Terceira, onde fizemos escalada, rappel... Se o grupo fosse mais extenso dificilmente teríamos realizado esse estágio. O objetivo desses estágios é tirar momentaneamente as miúdas do lar, para que elas também se distraiam com novas atividades em ambientes diferentes.

Mas não conseguiriam apoios para, por exemplo, poderem comprar mais uma carrinha?
De que nos serve ter mais uma carrinha se não temos ninguém para a conduzir? Repare que os tribunais, por vezes, permitem que as miúdas ao fim de semana estejam com os pais. Se tivermos jogo nesse fim de semana quem acha que vai levantar-se cedo para ir de Angra à Praia buscar as miúdas à casa dos progenitores de forma gratuita? Íamos ter duas carrinhas para um condutor? Obviamente que não! Já estamos acostumados com estes condicionalismos e vamos todos nós fazendo alguns sacrifícios pelo amor à causa!

Por que razão o clube tem dificuldades em formar equipas a partir das juvenis?
Há duas razões. Uma delas é que de um momento para o outro algumas atletas são entregues aos pais pelo tribunal. Ainda em dezembro tínhamos cá uma atleta de inegáveis recursos. Pois bem, o tribunal decidiu no dia 21 de dezembro que ela tinha de ser entregue à mãe (que vive em Lisboa). A miúda chegou do estágio da seleção Açores no dia 22 e no dia 23 embarcou de vez para Lisboa... Contra isso (decisões judiciais) nada podemos fazer a não ser aceitar essas mesmas decisões e desejar a melhor sorte para a vida futura das jovens. Outro facto é que uma esmagadora maioria das atletas quando chega aos 16 ou 17 anos sofre do problema da... adolescência. (Risos)

ANÁLISE
Como vê as carreiras dos clubes onde jogou – Antigos Alunos, Fonte do Bastardo e ADREP?
Na minha opinião os Antigos Alunos quiseram fazer um projeto muito rápido e com pouca solidez, começando a casa pelo teto. As coisas correram mal e o clube entrou em declínio. A Fonte do Bastardo tem crescido de forma sustentada, tem pessoas responsáveis à frente do clube que sabem o que querem para aquela instituição e é, com inteiro mérito, um dos melhores clubes de voleibol do panorama nacional. Quanto à ADREP, julgo que a nova direção trouxe juventude, melhores ideias e vontade notória em servir o voleibol terceirense. Contudo, acho que a introdução de profissionais (atletas estrangeiros) poderá afastar, a médio prazo, a "prata da casa" que tanto, e bem, caracteriza o clube.

Como observa o voleibol terceirense de uma forma geral?
Vejo com bons olhos, mas julgo que estaria muito melhor se houvesse uma certa “reciclagem”. Há algumas pessoas que estão a mais no voleibol, e só pensam em criar problemas e em levantar problemas com questões mesquinhas. Não se admite que numa ilha tão pequena criem-se polos de inimizade entre os poucos agentes de voleibol. É inadmissível que determinados dirigentes façam tudo para prejudicar o voleibol em consequência de conflitos pessoais... Infelizmente essas pessoas ainda existem no voleibol terceirense, já estão há vários anos na modalidade e seria benéfico para os clubes que não ocupassem cargos de dirigentes. Todo o dirigente faz falta desde que não seja para prejudicar. Penso que o voleibol terceirense necessita de “cara novas” com mentalidades diferentes e dinamizadoras.

Triunfo do CDINSL!

Após a vitória no Campeonato de Ilha do escalão de Iniciadas Femininas, o CDINSL ganhou o direito a participar no respectivo Campeonato Regional. A primeira paragem foi mesmo na Ilha Terceira, onde decorreu a primeira fase desta competição. Em competição, além do CDINSL, estiveram as equipas da Associação de Jovens da Fonte do Bastardo (Ilha Terceira), a Associação Desportiva e Cultural dos Bombeiros da Horta (Ilha do Faial) e o Santa Cruz Sport Clube (Ilha Graciosa), que se defrontaram durante quatro dias, em Angra do Heroísmo e na Praia da Vitória.


Após seis jogos disputados, o saldo do CDINSL é amplamente positivo, uma vez que as atletas conseguiram vencer todos os jogos disputados.


Após esta sequência de jogos, o clube alcançou a qualificação para a segunda fase do Regional, a disputar na Ilha de São Jorge, nos próximos dias 16, 17 e 18 de Abril.

Jovem do CDINSL convocada para a Selecção Regional dos Açores

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A atleta Cátia Silveira, da equipa de Iniciadas Femininas, foi mais uma vez convocada para um estágio da Selecção Regional dos Açores, tendo estado presente nos trabalhos desenvolvidos na Ilha de São Miguel.

O CDINSL congratula-se por esta chamada, desejando que estas notícias se repitam num futuro próximo.

Algumas imagens da época desportiva 2009/2010











As campeãs de Ilha!

Equipa de Iniciadas Femininas do CDINSL - 2009/2010

Em cima, da esquerda para a direita: Sérgio Almeida (treinador), Mónica, Patrícia, Raquel, Sara, Dina, Filipe Fernandes (dirigente);

Em baixo, da esquerda para a direita: Ana, Miguel (treinador-adjunto...), Romana, Cátia, Catarina Gusmão e Catarina

No CDINSL...

...a união faz a força!


Balanço

Nesta fase é já possível fazer um balanço da participação das equipas do Clube Desportivo Irmandade de Nossa Senhora do Livramento no respectivo Campeonato da Ilha Terceira.

Assim sendo, os campeonatos chegaram ao final registando-se um terceiro lugar (no escalão de Juvenis Femininas) e um primeiro lugar (no escalão de Iniciadas Femininas).

Há, assim, que destacar a prestação das atletas, destacando o estatuto de bi-campeãs conquistado pelas Iniciadas neste ano desportivo 2009/2010.

Segue-se a participação no Campeontao Regional dos Açores, onde as atletas do CDINSL defenderam o estatuto de Campeãs Regionais de Iniciadas Femininas.